HARMONITANGO
- Por Sergio Roberto de Oliveira, compositor e produtor do CD
Astor Piazzolla é figura múltipla, complexa e apaixonante. É um daqueles músicos difíceis de se definir: afinal, compunha tangos ou música de concerto? Sua formação e escrita inclui os dois universos de forma inegável, o que num momento de sua carreira foi negativo, tendo resistências terríveis dos tangueros tradicionais e precisando sempre se provar como compositor sério (chegou a esconder de Nádia Boulanger, quando teve aulas com ela, seu contato com o tango. Ao finalmente mostrar-lhe, ela teria dito: esse é o verdadeiro Piazzolla. Não afaste-se
dele). Aliás, em relação a mestres, estudou não só com Boulanger, mas também com Ginastera, um dos maiores compositores da música de
concerto argentina. Pois é justamente a tradução desse Piazzolla múltiplo e complexo que nos apaixona neste álbum do HARMONITANGO. Grupo integrados por músicos também de origens diversas – uns mais populares, outros mais eruditos – ao mesmo tempo tem em todos eles músicos experientes tanto no trabalho junto à música de concerto como à música popular. Talvez, seja exatamente por isso que possamos perceber tantas nuances. É tango, é
música de câmara, tem uma abordagem popular, com improvisos e ao mesmo tempo uma profundidade seja na sonoridade, seja na interpretação que nos emociona, nos alegra, nos faz perceber essa música de Piazzolla que não acredita em fronteiras. Dos grupos que têm se debruçado sobre a obra do mestre argentino, encontrei no HARMONITANGO uma das melhores formas de expressão – com exceção dele próprio tocando, obviamente – da multidimensionalidade de sua música. E, como produtor às vésperas de completar 20 anos de ofício, tenho que confessar: é um dos raros álbuns dos que produzi que estará constantemente na minha playlist. Não importa o que você mais gosta na música de Astor Piazzolla, se sua leveza, se sua densidade, se sua dramaticidade, se seu lirismo, se a elaboração dos arranjos, a interpretação precisa ou mesmo a busca de uma sonoridade única: este álbum satisfaz a todos nós!
HARMONITANGO
José Staneck, harmônica | Ricardo Santoro, violoncelo | Sheila Zagury, piano
A busca por diferentes sonoridades e por novas formas de expressão: esta é a razão para a formação deste inusitado trio, formado por músicos com grande experiência camerística, como José Staneck, Ricardo Santoro e Sheila Zagury. Através da fusão de seus estilos, os músicos encontram na obra de Astor Piazzolla uma maneira de se expressar de forma emocionante e vibrante, valorizada pela riqueza tímbrica da harmônica, do violoncelo e do piano, criando uma sonoridade surpreendente dentro de uma obra fascinante. A similitude da sonoridade da harmônica com o bandoneon transfere à música de Piazzolla toda a energia de um dos mais importantes compositores do século XX, numa poderosa usina de sons valorizada pelos arranjos e pela execução do Harmonitango. Criado em 2010, o Harmonitango já se apresentou em diversas salas de concerto do Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Brasília, Goiânia, Maringá, Londrina etc, sempre com grande receptividade do público e da crítica especializada, e tem como seu principal objetivo a divulgação da música de Piazzolla e também dos grandes compositores brasileiros, sempre com arranjos feitos pelos próprios músicos. Chamado de David Oïstrakh da harmônica pelo crítico francês Oliver Bellamy e comparado aos músicos Andrés Segovia e Mstislav Rostropovich por sua atuação na divulgação e construção da poética de uma harmônica brasileira pelo crítico Luiz Paulo Horta, José Staneck criou um estilo próprio onde variados elementos se fundem numa sonoridade marcante. Desenvolve importante trabalho na área do ensino, e atualmente viabiliza um trabalho social de inclusão cultural levando o ensino de música através da gaita para crianças em diversas localidades do Brasil. Atua com diferentes formações camerísticas, e já foi solista de diversas orquestras sinfônicas brasileiras e internacionais. Ricardo Santoro é Mestre pela UFRJ e violoncelista da Orquestra Sinfônica Brasileira e da Orquestra Sinfônica da UFRJ. Faz parte do Duo Santoro, do Trio Aquarius e do Trio Mignone, todos com intensa atuação no cenário musical brasileiro. Com o Trio Aquarius, participou de turnês pela Alemanha e Estados Unidos. Com o Duo Santoro, se apresentou no Carnegie Hall de NY e na República Dominicana. Gravou os CDs “Bem Brasileiro” e “Paisagens Cariocas”, com o Duo Santoro; “Trios Brasileiros” e “Peace to the city”, com o Trio Aquarius; e “Francisco Mignone: obras para flauta, violoncelo e piano”, com o Trio Mignone”. É responsável pela primeira audição mundial de alguns dos maiores compositores brasileiros, tais como Edino Krieger, João Guilherme Ripper e Ronaldo Miranda. Sheila Zagury é pianista, arranjadora e professora da UFRJ. Fez Bacharelado na UFRJ, Licenciatura e Mestrado na UNI-RIO e Doutorado na UNICAMP, com tese a respeito de choro nos anos 1990. Musicista de formação eclética, com passagem na música erudita e no jazz, já atuou com vários artistas e grupos de renome como Eduardo Dussek, Ângela Rorô, Rio Jazz Orchestra, UFRJazz, Daniela Spielmann, Neti Szpilman e Marianna Leporace, e em numerosos espetáculos de teatro e shows em todo o Brasil e no exterior. Desenvolve diversos trabalhos artísticos com músicos, envolvendo choro, samba e jazz, tendo participado de vários shows e gravado CDs dentro desses gêneros, como “Mulheres em Pixinguinha”, “São Bonitas as Canções”, “Brasileirinhas” e “Orquestra Lunar”.