Utopia Lírica
Em Utopia lírica, quis desenvolver uma visão particular sobre a arquitetura e o urbanismo da cidade, como se o que já se conhece dela e o que é relembrado fossem as camadas que originam uma “transvisão” – não um desvio, e sim uma nova ordem: uma leitura subjetiva e atemporal. Brasília representou, para a fotografia, algo semelhante que foi para a arquitetura: um marco no modernismo fotográfico do país, que resultou em registros incessantes que logo levaram a certo desgaste imagético. Fotografei os lugares conhecidos e também os pouco comentados, como a torre de TV projetada por Lucio Costa, os edifícios funcionais, militares e religiosos de Oscar Niemeyer, procurando encontrar uma fagulha que desencadeasse uma imagem vigorosa.
Fugitivo
Um farol náutico congelado é um projetor de cinema em transe, um facho continuo que projeta um só fotograma sem imagem, límpido e branco.
Fugitivo é uma instalação dentro das práticas criada por Hélio Oiticica e Neville de Almeida, do QUASI-CINEMA que são experiências com o uso dos recursos cinematográficos ou referentes a ele.Velhos spots de fotografias reunidos em uma única torre, são refugos da memória física e da transformação das utopias.
A luz que atraem os insetos é a mesma que revela imagens fulgazes nas telas. A mesma que alerta e emociona.
Do cinema vem a tridimensionalidades das latas de transporte de filmes de 70 mm, dos anos sessenta, latas que guardei por 36 anos a procura de uma nova significação.
Nos espaços das latas para identificação dos filmes, imagens impressas de faróis náuticos em várias cromaticidades, referenciando evolução das películas , do preto e branco ao magenta do esmaecimento dos Technicolors.
Fugitivo se mimetiza a todos os espaços, de cubos neutros à espaços em estado de abandono. O grande deflagrador da instalação é que qualquer arquitetura se amalgama à obra, em uma unidade própria das intervenções em espaços não programados ( cantos, quinas, porões, depósitos ...).
O farol que guia para fora do perigo, é o mesmo que atrai, como a doce perversão do canto das nereidas, traiçoeiras para armadilhas mortais, como o cinema que inebria e transporta para universos efêmeros.