O ator Matheus Nachtergaele costuma dizer que a poética do teatro deriva das emoções. E a prova disso ele dá no palco, com o monólogo Processo de Conscerto do Desejo.
Acompanhado pelos músicos Luã Belik (violão) e Henrique Rohrmann (violino), Nachtergaele há quase um ano vem emocionando plateias com este espetáculo, que ele apresenta em celebração à própria mãe, a poeta Maria Cecília Nachtergaele.
Poucas emoções poderiam ser mais fortes, ou mais profundas. Maria Cecília retirou-se da vida em 1968, quando o ator era um bebê de apenas três meses. Nachtergaele recebeu do pai, já na adolescência, os textos deixados pela poeta. “Dela, me restaram seus poemas, lindos e maduros – escritos de uma jovem mulher moderna e triste – e essa veia que me marca a testa quando rio ou choro muito”, conta.
Processo de Conscerto do Desejo chega à Cidade das Artes. Com este nome mesmo, sem nada a mudar no título. Com um concerto, Nachtergaele busca consertar desejos. O ator explica: “Um ser que não carecesse de nada, não desejaria nada. Seria um ser perfeito, um Deus. Por isso a filosofia, tantas vezes, considera o desejo como característica primeira do ser imperfeito, do ser finito”.
Como uma “oração profana”, o espetáculo se constrói em comunhão com o público: “Preciso das pessoas, como observadores emocionados disso tudo. Quero ir consertando meu desejo de acordo com essa emoção, dia após dia. Como na vida. Como no teatro. Isso, só o teatro pode nos trazer. Temos um ator, um violão, lindos poemas e a canção. Tudo pequenininho para a grandeza do essencial”, revela ele.
Sobre Matheus Nachtergaele: Matheus Nachtergaele é um ator e diretor brasileiro com intensa atuação no teatro, cinema e televisão. Iniciou sua carreira teatral com o diretor paulista Antunes Filho, em 1989. No ano seguinte, ingressou na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD-USP/SP), e logo estreou nos palcos profissionalmente. Com o Teatro da Vertigem, grupo fundado em 1992 e dirigido por Antônio Araújo, protagonizou os espetáculosParaíso Perdidoe O Livro de Jó, que conquistaram prêmios de melhor ator como o Shell, o Mambembe e o APCA. Em seguida, atuou nos espetáculosDa Gaivota, WoyzzeckeA Controvérsia, todos premiados e bem recebidos pelo público e pela crítica. No cinema, estreou sob a direção de Bruno Barreto, em 1997, com o filmeO que é isso, Companheiro? Desde então, atuou em cerca de 30 longa-metragens, entre elesCentral do Brasil, O Auto da Compadecidae Cidade de Deus. Por estes e outros trabalhos recebeu inúmeros prêmios como ator, incluindo APCAs, dois Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Fez sua estreia cinematográfica em 2008, como roteirista e diretor do longa A Festa da Menina Morta, exibido na mostra Un Certain Règard, do Festival de Cannes, e premiado em festivais de cinema no Brasil e no exterior. Matheus atua continuamente, também, em produções para a televisão. Em 2014, foi convidado pelo grupo Entre & Vista para dirigir o espetáculo O País do Desejo e do Coração, de Wiliam B. Yeats, em Tiradentes (MG). No cinema, lança os filmesTrinta, com direção de Paulo Mackline, e Big Jato, com direção de Cláudio Assis. E em São Paulo, filmou sob a direção de Anna Muylaert o longa Mãe só há uma, e protagonizou o curta Quando Parei de me Preocupar com Canalhas, de Tiago Vieira. Em 2015, estreia a sérieZé do Caixão, no Canal Space, com direção de Vitor Mafra. Filmou em Buenos Aires, com Lucrecia Martel, o longa Zama,em fase de finalização.