Cidade das Artes recebe premiado espetáculo multimídia português
‘Sombras – A Nossa Tristeza é Uma Imensa Alegria’, com direção de Ricardo Pais, reúne os fadistas Raquel Tavares, José Manuel Barreto, o pianista Mário Laginha e grande elenco, para homenagear a cultura lusitana através do fado, da música e da palavra
‘Sombras – A Nossa Tristeza É Uma Imensa Alegria’ pode ser definido como um grande tributo a Portugal e, consequentemente, à Língua Portuguesa. Dirigido por Ricardo Pais – um dos mais importantes encenadores do país em atividade – o espetáculo estreou em 2010 e cumpriu diversas temporadas de sucesso em terras lusitanas, antes de ganhar o mundo e ser aplaudido em espaços como o Théâtre de La Ville (França) e o Festival Tchékhov (Rússia).
Entre 3 e 5 de julho, a montagem será apresentada pela primeira vez no Rio de Janeiro, em três sessões especiais na Cidade das Artes. Em cena, o inconsciente mítico e a história do povo português estarão presentes por meio de textos, números de dança, vídeos e fado.
Promoção especial de encerramento do Festival Portugal no Rio - Cidade das Artes
50% de desconto no valor do ingresso/inteira. Estudantes pagam R$10,00, mediante comprovação. Promoção válida para os espetáculos dos dias 3,4 e 5/7.
O roteiro do espetáculo é baseado nos trechos de três textos dramáticos:
Castro de António Ferreira -1550, Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett - 1843 e Figurantes de Jacinto Lucas Pires - 2004.
Castro, de António Ferreira
Trata-se de Pedro e de Inês – dos amores entre o herdeiro do trono e uma filha de Espanha, motivo de temores, pois tal ligação representa uma ameaça à independência de Portugal. Sob a pungente impressão de um sonho, Inês de Castro confia os seus receios à Ama, e o Coro anuncia a sua morte. Na ausência de Pedro, D. Afonso IV confronta a Castro, que, rodeada dos filhos, implora clemência. O rei hesita, mas acaba por ceder aos rogos dos seus conselheiros. Inês é assassinada. Pedro é colhido de surpresa pela notícia; entre imprecações, promete vingar o crime e pôr Inês em “estado real”. “Tu serás cá rainha, como foras.” A lenda propaga aquilo de que António Ferreira nos escusa: após ascender ao trono, D. Pedro sujeita os conselheiros a um suplício terrífico, arrancando-lhes os “corações feros”. Impõe a trasladação do corpo da amante de Coimbra para o Mosteiro de Alcobaça, onde ordenara a construção de dois túmulos – um para Inês, outro para si –, e, numa lúgubre cerimónia de coroação, obriga a Corte a beijar a mão putrefacta da Castro. (“Ó Castro, Castro, meu amor constante / Quem me de ti tirar, tire-me a vida.”)
Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett
D. João de Portugal foi dado como perdido na batalha de Alcácer-Quibir (1578), desastre militar onde desapareceu o Rei D. Sebastião e que redundou na perda da independência de Portugal. Após anos de buscas, Madalena de Vilhena, mulher de D. João de Portugal, desposou Manuel de Sousa, que já amava em vida do primeiro marido. Deste segundo casamento nasceu Maria de Noronha, que, aos 13 anos, revela estranha sensibilidade, aguçada pela tuberculose. A casa vive carregada de negros presságios. Ninguém, à exceção da febril Maria e de um velho escudeiro, quer ouvir falar do regresso de D. Sebastião, porque evoca o possível retorno de D. João de Portugal. Num gesto patriótico, D. Manuel incendeia o seu palácio para nele não acolher os opressores castelhanos. A família transfere-se para o solar do suposto morto, onde, vinte e um anos após Alcácer-Quibir, aparece um Romeiro vindo da Terra Santa: é D. João de Portugal. O passado, que se julgava morto, vem engolir os vivos. A família é destruída: Manuel e Madalena ingressam num convento e, numa hemoptise delirante, Maria morre “de vergonha”. Há ainda quem confira a crença popular de que D. Sebastião (“Bastião, Sebastião e Basta”, na escrita do poeta Alexandre O’Neill) regressará numa manhã de nevoeiro.
Figurantes, de Jacinto Lucas Pires
Sete personagens – gente de proveniências, histórias e segredos diversos – encontram-se num lugar indeterminado, que por fim revelará ser um estúdio de televisão. Tentando vencer o medo, procuram em conjunto construir uma história, por entre a qual se vão contando a si próprios, a partir de memórias, restos de ideias, uma ou outra mentira. Pedro é uma das personagens, que a espaços revela a sua história de amor por uma mulher “da vida” (“Uma vez ofereci um ramo de gerúndios brancos a uma mulher. Ela olhou p’ra mim e fez: ‘Oh!’. Só ‘Oh!’. Não a vi nem nunca mais.”), uma história de recusa feita de lapsus linguae, drogas e outros enganos. Dois velhos apresentadores ou actores de variedades – compères também revisitados em Sombras – irrompem por ali, carregados de absurdas e intermitentes memórias da televisão e do “espectáculo”.
Uma criação de Ricardo Pais
Vídeos Fabio Iaquone, Luca Attilii
Música original e direção musical Mário Laginha
Coreografias Paulo Ribeiro
Cenografia Nuno Lacerda Lopes
Figurinos Bernardo Monteiro
Desenho de luz Rui Simão
Desenho de som Francisco Leal
Preparação vocal e locução João Henriques
Consultor musical (fados) Diogo Clemente
Guião e encenação Ricardo Pais
Assistência de encenação Manuel Tur
Interpretação José Manuel Barreto, Raquel Tavares (fadistas); Emília Silvestre, Pedro Almendra, Pedro Frias (atores); Carla Ribeiro, Mário Franco, Romulus Neagu (bailarinos); Mário Laginha (piano), Carlos Piçarra Alves (clarinete), Mário Franco (contrabaixo), Miguel Amaral (guitarra portuguesa), Paulo Faria de Carvalho (viola); Albano Jerónimo, António Durães, João Reis e Teresa Madruga* (participação especial em vídeo)
Produção TNSJ
Em co-produção com Centro Cultural Vila Flor, Teatro Viriato, São Luiz Teatro Municipal
Colaboração OPART