O projeto Língua Viva busca ser um ponto convergente entre linguagem, psicanálise e processo criativo. A cada encontro os psicanalistas Marília Flores e Abílio Ribeiro desenvolvem um aspecto especifico da nossa língua. A arte intriga, faz enigma e provoca. À luz da psicanálise serão comentados ângulos e caminhos em torno do ato de criação e da experiência de fruição da arte, tanto para o artista quanto para o espectador/leitor.
TEMA: Ver e ser visto: o mundo tela
DATA: 07/ 05 /2025
A pandemia de covid acelerou um processo que vinha se impondo de modo inexorável: a onipresença das telas nas nossas vidas. Uma mudança radical que não é sem consequências. Da maravilha ao horror desse admirável mundo novo panótico podemos recolher alguns efeitos, que engendram fantasias, desejos, sintomas e delírios, tais como: imperativo à fama, exibição do privado, fetichização da imagem, soberania da opinião, isolamento, vigilância, entronização do perigo no abrigo do lar...E outros efeitos que poderemos pensar juntos em nossa roda de conversa.
Os próximos encontros serão: 14/05/25, 16/07/25, 17/9/25 e 19/11/25.
OUTROS ENCONTROS
TEMA: A função da fantasia
DATA: 19/03/2025

Em nossa festa carnavalesca, as fantasias não são apenas modos de representar, citar e experimentar os elementos de nossa cultura popular e de nossa vida social, elas são também formas críticas e criativas de discutir nossas realidades cotidianas. Pela fantasia, somos agentes de narrativas, atores de cenas ou sujeitos discursantes sobre a realidade que nos oprime, nos angustia e nos interroga como seres de desejo. A fantasia carnavalesca nos permite um gozo possível de alegria, diversão e subversão como alternativa à angústia frente ao exercício de poder do Outro do Estado.
A fantasia é uma via possível diante do real inapreensível que nos invade, nos surpreende e nos desafia. Enquanto seres da linguagem, organizamos nossa vida psíquica a partir de nossa fantasia fundamental, ou seja, pela ficção que fazemos de nossa posição frente ao desejo do Outro e diante da pergunta: “Que queres”? Freud a apresenta através da formulação verbal de uma analisanda _ “Bate-se numa criança”.
Só podemos abordar o real pela realidade recortada na tela da fantasia. Na obra “A condição Humana” (1933), René Magritte retrata uma cena ou cenário que se apresenta para além da moldura da janela e outra que parece reproduzir numa tela, próxima à janela, aquilo que a própria tela nos impede de ver diretamente. Assim, a pintura no cavalete seria uma apresentação de uma realidade que buscaria representar o que é real além da moldura da janela? Magritte nos confunde entre a apresentação e a representação; entre pintura, real e realidade.
É também com a sua genialidade que um certo Joãozinho Trinta nos dá a ver, em sua “Grande Ópera Popular”, a transposição do real em fantasia, e a nossa condição de objeto frente à presença do desejo colonizador do Outro: “Sai do lixo a nobreza/ Euforia que consome/ Se ficar, o rato pega/ Se cair, urubu come”.