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Janeiro de 2021

dia 03, Domingo

Artistas periféricos da exposição 'Nova Vanguarda Carioca' mostram talentos, contradições e inquietudes de um Brasil pulsante

Mostra organizada por Gringo Cardia reúne painéis de 6 metros de altura, chega à Cidade das Artes no próximo sábado e fica em cartaz até 20 de março.

Eduardo Vanini - 02/01/2022 - 03:30 / Atualizado em 02/01/2022 - 17:28

Minutos depois de conceder uma entrevista sobre o seu trabalho, Wallace Pato decide enviar um áudio pelo WhatsApp para arrematar as falas. “Na arte, só fica o que o povo carrega no colo”, diz, com voz grave. Nascido em Ramos, bairro da Zona Norte do Rio, o artista, de 28 anos, não tem dúvidas de que tudo de mais importante produzido culturalmente no Brasil nasceu nas periferias. No caso do Rio, “do túnel para cá”, diz ele. “No surgimento da bossa nova, vieram até aqui aprender com Pixinguinha e Baden Powell. Mas, se você for a Pernambuco, verá que tudo também sai das margens.”

A fala eloquente sintetiza a exposição “Nova vanguarda carioca”, que chega à Cidade das Artes no próximo sábado e fica em cartaz até 20 de março. Com curadoria do diretor de arte Gringo Cardia, a mostra reúne 20 painéis de 6 metros de altura com reproduções de 15 artistas de diferentes idades e origens, que têm alguma ligação com a periferia. São nomes como Heloisa Hariadne, Marcela Cantuária, Rafa Moreira, Mulambo e Geleia da Rocinha, que juntos produzem uma estética pulsante e afinada com as urgências políticas contemporâneas. “Eles têm trabalhos contundentes e falam da realidade de uma maneira poética. Não é simplesmente pintar coisa bonita por ser bonita. Há um conteúdo mais profundo”, afirma Gringo.

Os painéis foram exibidos pela primeira vez em novembro, no Copacabana Palace, durante as celebrações pelos 20 anos da Tiffany & Co. no Brasil. Agora, aberta ao público, a exposição remonta, em certo grau, a mostra “Estética da periferia”, lançada em 2005 por Gringo em parceria com a professora emérita de teoria crítica da cultura da UFRJ Heloisa Buarque de Hollanda, que voltou a colaborar com o amigo nessa exibição. “Esses artistas têm uma linguagem pop e mesclam raiz e arte internacional”, descreve a professora. “É uma mistura incrível que parte do trânsito e dos fluxos que só a periferia tem, uma arte contemporânea capaz de mostrar o mundo como está hoje.”

A seguir, 11 desses talentos falam por si.

 

Marcela Cantuária

Mudar os rumos da história não soa pretensioso para artistas como Marcela, de 30 anos. “Quando vejo meus pares, percebo que temos um trabalho político que toca nas feridas. Sinto-me uma formiguinha construindo algo em conjunto.” De seu ateliê no Grajaú, no Rio, saem pinturas que reforçam, entre outros temas, a força de mulheres que lutaram por um mundo mais justo. “Penso na criação de um imaginário coletivo que atenda às nossas urgências. São personagens fortes e guerrilheiras, cujas histórias sofrem com um apagamento constante”, analisa Marcela, que criou toda identidade visual do álbum “Portas”, de Marisa Monte.

 

Diambe da Silva

Esculturas, coreografias, gravuras, pinturas e estruturas móveis. Para uma artista com tanto a dizer, nada mais coerente do que a pluralidade de linguagens. “Há poucos lugares de profissionalização para pessoas negras e não-binárias como eu. Preciso cuidar do meu corpo e da minha família. A arte é onde consigo tornar minha vida mais possível”, define. Nascida no Engenho Novo, criada na Vila Valqueire e atual moradora de Madureira, Diambe, de 28 anos, está em cartaz em cinco exposições, incluindo uma individual em São Paulo. Ainda assim, reconhece que a estrada não está pavimentada. “Discurso e prática ainda são distantes. Chegar a um espaço de arte é um deslocamento social.”

 

Rafael Baron

Em “Selfie”, sua primeira individual, encerrada neste domingo na Portas Vilaseca Galeria, no Rio, o artista de 35 anos retrata o engajamento das redes sociais e a democratização da arte por meio dessas plataformas. Nascido e criado em Nova Iguaçu, ele começou a viver exclusivamente de suas obras há apenas dois anos, e o futuro não poderia ser mais promissor. Entre as próximas paradas está uma outra individual, dessa vez em Nova York. “Há uma ressignificação histórica no mundo da arte, que sempre negou pessoas negras e periféricas no cenário.”

 

Mulambö

Iconografias sacras e institucionais se misturam ao samba e ao futebol nas obras desse artista natural de Saquerema, na Região dos Lagos. “Abordo o existir periférico no Rio. São coisas que construímos e, ao mesmo tempo, nos constroem”, resume o jovem, de 25 anos, representado pela galeria paulistana Portas Vilaseca e em cartaz na mostra coletiva “Sweat”, em Munique, Alemanha. Garantir essa presença na arte, ele diz, é urgente. “É um mercado muito excludente e violento, que encontra maneira de cooptar nosso trabalho como uma mera ferramenta. É muito importante entendermos isso para nos mantermos em movimento.”

 

Heloisa Hariadne

As obras dessa jovem de Carapicuíba (SP), são como florestas de onde brotam emoções. “Falo bastante das plantas e da natureza, mas também do que vejo no meu dia a dia”, descreve a artista, de 26 anos, que tem seu trabalho ilustrado no livro Enciclopédia Negra e fez uma bem-sucedida individual na Galeria Leme. Com criações expostas em espaços institucionais de arte e murais em prédios, a artista gosta de pensar em como o seu trabalho afeta o público nas mais diferentes situações. “A pessoa pode ir a um museu e ver uma tela, mas também pode estar num ônibus e se deparar com uma pintura. Faço arte para todos.”

 

Jota

Encontrar trabalhos que façam uma representação nua e crua da favela ainda é difícil, mas Jota faz isso com primazia. Morador do Complexo do Chapadão, no Rio, retrata o cotidiano que o cerca em toda sua complexidade. “Não existe só tristeza na favela. Mostro o nosso olhar de esperança para as coisas”, diz o rapaz, de 21 anos, cujas telas já foram adquiridas por nomes como Brenda Valansi, criadora da ArtRio, e Regina Casé. “Ainda estou entendendo o mundo da arte e quero aprimorar minhas técnicas. Um ano atrás, nem sabia que podia viver disso.” Nada mal para alguém que acaba de ser contemplado pelo Seed Awards, prêmio do Fundo Prince Claus que seleciona artistas com temáticas sociais.

 

Wallace Pato

“Na arte, só fica o que o povo carrega no colo.” Enigmática, a frase do artista que mora em Ramos, no Rio, é, na verdade, uma chave de acesso às telas e murais que exaltam o cotidiano das periferias. “Meu trabalho é voltado ao meu povo, aquele que vive nas margens da cidade, que movimenta todo o Brasil”, diz o rapaz, de 28 anos, que conquistou a galeria paulistana Mendes Wood DM. Ele traça um paralelo com um dos ritmos mais famosos da música brasileira. “Na bossa nova, vieram até a periferia aprender com Pixinguinha e Baden Powell. Nosso povo é iluminado.”

 

Raphael Cruz

O contato com a cultura é uma constante na vida desse carioca de 30 anos. Começou pela dança, seguiu pelo cinema e escoou pelas artes visuais. Leia-se: pintura, fotografia, performance e escultura. Antes da pandemia, fez residência artística em Berlim. “A arte é uma ferramenta pela qual consigo me fazer existir, algo frequentemente negado às pessoas de onde venho”, descreve o jovem, que nasceu no Irajá, passou boa parte da vida na Maré e hoje mora em Santa Teresa. “Trabalho em cima da cultura africana diaspórica. Quanto mais pesquiso, mais minha produção ganha embasamento. Estou resgatando uma parte apagada da nossa história.”

 

Getúlio Damado

“Já me chamaram de artista plástico, de artesão, de escultor... Mas não faço essa distinção. Vivo do ramo e acabou.” Com 66 anos de idade, Getúlio não usa meias-palavras para falar sobre o ofício que exerce há quase quatro décadas. Uma das figuras mais célebres de Santa Teresa, onde mora e mantém ateliê no Rio, o mineiro já levou suas esculturas de materiais reaproveitados ao mundo inteiro. São bonecos, brinquedos e o bonde, símbolo máximo do bairro. “Meu trabalho fala sobre o que há de mais forte para o ser humano, como a importância da família e da natureza.”

 

Geleia da Rocinha

As cores que explodem nas telas desse artista têm origem na sua própria vida. “Tive uma juventude muito boa, e o colorido é um reflexo dessa história”, conta o pintor, nascido e criado na Rocinha e hoje morador de São Gonçalo. “Brincava muito de soltar pipa, peão e carrinho de rolimã.” Uma juventude da qual jamais abriu mão. Afinal, como ele mesmo diz, quase ninguém acredita nos seus 64 anos de idade. Com trabalhos expostos no Brasil e na Suíça, Geleia observa com gosto a ascensão de colegas das novas gerações. “Se lá atrás eu dissesse que não valia a pena viver de arte, esses garotos não estariam aí, construindo histórias.”

 

Rafa Moreira

“Um belo dia acordei e pensei: ‘quero ficar rosa’.” O desejo que culminou na performance “Tinta sobre pele”, em que a artista caminha pelas ruas com o corpo pintado, guarda toda sua elaboração sobre o fazer artístico. Natural de Belém do Pará, Rafa tem 25 anos e reimagina a História ao produzir releituras de quadros clássicos com representações de corpos transexuais e travestis. Em uma dessas telas, aparece ela própria como sua persona drag Boto-Rosa. “O processo de arte não se dá apenas quando pintamos um quadro. Com a performance, desloco essa pintura da tela para a pele.” Em fevereiro, fará sua primeira exposição individual no Atelier MT, da colecionadora Margareth Telles.

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