A TRIO Bienal - Bienal Tridimensional Internacional do Rio de Janeiro, nasceu como uma proposta para o Rio e em sua primeira edição em 2015, reuniu 154 artistas de 45 países, e recebeu durante os 2 meses que esteve aberta em 9 museus e instituições da cidade, um público de 215 mil pessoas, sendo 30 mil destes visitantes, crianças das redes públicas de ensino, nos projetos educativos das mostras.
Em sua segunda edição, a bienal que apresenta obras em variados suportes, porém sempre tridimensionais, sendo a única em seu perfil entre as bienais do mundo, reúne cerca de 50 artistas brasileiros e internacionais, para falar de um momento de crise sistêmica, hoje principalmente de bases humanistas e democráticas no âmbito das liberdades de expressão e direitos individuais.
Sob o tema "Vestir o Mundo!", o curador Alexandre Murucci conclama os artistas a mostrarem que o sentimento de vestir o mundo, significa vestir compromissos, vestir anseios, vestir os elementos essenciais de nossa existência, de nossa relação com o mundo, com um planeta em conflito, em perigo, em urgências que nos exigem um posicionamento perante responsabilidades diárias.
A mostra é dividida em 3 módulos relacionados a elementos da natureza – vistos por seus coeficientes simbólicos: "Ar" - representando a cultura, o saber, a história e nosso zelo pelo Passado. A herança do humano; "Água" - que representa as forças atávicas da natureza, nosso compromisso com o Futuro; e "Terra" - que representa o espírito, a força telúrica que rege o Presente, em todas as formas anímicas da vida.
Locais / Venues:
Cidade das Artes – Foyer da Grande Sala / City of Arts – Grand Foyer
Ter a Dom de 14h às 19h (Em dias de espetáculo até às 22h) / Tuesday to Sunday, from 2 pm to 7 pm (On show days until 10 pm)
Av. das Américas, 5300 - Barra da Tijuca, Rio de Janeiro
Phone.: 21-3325-0102
Grátis / free
Outras informações no site / Infos: http://cidadedasartes.rio.rj.gov.br
Módulo “ Ar “ – Cidade das Artes / “Air” core – City of Arts – Barra
Alexandre Dacosta
Ana Biolchini
Braga Tepi
Christian Fuchs – Peru
Christina Oiticica
Edmilson Nunes
Ivan Enquin – Argentina
Ivan Grilo
João Magalhaes
Lígia Teixeira
Margo Margot
Mestre Didi
Mestre Sala e Porta-Bandeira
Nelson Leirner
Pooza Kataria - India
Shurooq Amin - Kuwait
Tunga
Módulo “Água” – Cidade das Artes / “Water” core – City of Arts – Barra
Alexandre Vogler
Amy Cannestra – USA
Anna Paola Protásio
Antonio Bokel
João Castilho
Kakati de Paiva
Rekha Sameer – UK
Silvana Pestana - Peru
Wilson Piran
Zena Assi – Líbano
Módulo “Terra” – Jardim Botânico / “Earth” core – Rio’s Botanic Garden
Adriana Tabalipa
Adrianna Eu
Ana Margarida Castro – Portugal
Ana Muglia
Anna Paola Protásio
Antonio Bokel
Bebe Schmitt
Carlos Calsavara
Clarisse Tarran
Gustavo Prado
Ivani Pedrosa
Kacá Versiani
Katya Romero - Equador
Leonardo Etero
Lia do Rio
Marcelo Lago
Marcio Faria
Maria Lynch
Pietrina Checcacci
Ricardo Siri
Sofia Donovan – Argentina
Suely Farhi
Tadeusz Zielowski – Polônia
TRIO Bienal 2017
prod.triobienal@gmail.com
Contato Curadoria:
alexandre.murucci@gmail.com
55-21-986692329
Textos curatoriais em versão resumida:
Vestir o Mundo
Vestir o mundo, vestir anseios, vestir compromissos, vestir os elementos essenciais de nossa existência, de nossa relação com o mundo, com um planeta em conflito, em perigo, em urgências que nos exige um posicionamento perante responsabilidades diárias.
Ao escolher “Vestir o Mundo” como tema da 2ª TRIO Bienal, nossa proposta foi enfocar nossa relação com o planeta, de forma holística porém como ato político de afirmação de liberdades individuais e coletivas. Para abordar tema tão vasto, tomamos como estrutura, 3 tópicos relacionados à forças da natureza, tanto no que se refere aos seus elementos quanto ao seus valores simbólicos :
"Ar" - Representando a cultura, o saber, a história e nosso zelo pelo passado. A herança do humano;
"Água" – Que representa as forças atávicas da natureza, nosso compromisso com o futuro, e; "Terra" - que representa o espírito, a força telúrica que rege o presente, em todas as formas anímicas elementares da natureza.
De posse destes conceitos, nossas escolhas juntos aos artistas foi de buscar em suas obras uma narrativa que pudesse dar luz as essas emergências que o planeta nos conclama.
“AR” –
Por conta de um momento histórico grave e delicado que o mundo atravessa, onde liberdades individuais, de crença, gênero, identidades e valores essenciais são atacados tanto institucionalmente como nos novos âmbitos de expressão privada, hoje autônoma, volátil, insurgível, e muitas vezes incontrolável com a consolidação da civilização digital, tomamos o Brasil, suas utopias e distopias como figura de abordagem destes valores, certos de que nossos conflitos reverberam um estado de coisas similar em outras culturas.
Ao fazê-lo, também, voltamos à nossa pretensão de termos talvez uma resposta às questões que ora conflitam o mundo, diante de nossa história diferenciada, miscigenada e antropofágica, que tornou dores e dificuldades, em opções criativas e formas de convívio que mesmo às vezes, ásperas, ainda são uma possibilidade de visão acolhedora de sociedade e a partir daí, evidenciam experiências de diversas culturas que conosco dialogam.
E como dinâmica, escolhemos montar vários altares de expressão, cada um com um foco em direitos universais.
Estes altares estão divididos em duas vertentes: O Sagrado e o Corpo – onde dimensões do ser e de pertencimentos pontuam o discurso da mostra.
Assim sendo, no que intitulamos “o sagrado”, um percurso filosófico-étnico-emocional foi instaurado a partir da grande instalação fotográfica de Margo Margot (BR) que apresenta deuses da matriz africana que são parte da formação do Brasil como nação. Esta instalação é finalizada por um altar, onde peças de espaços religiosos de religiões afro-brasileiras, ultrajadas em acontecimentos recentes, foram resgatadas e restauradas utilizando simbologias orientais no que tange objetos sagrados, onde as partes coladas são pintadas em ouro, em respeito a imantação de vivências que estes objetos carregam, num libelo contra a onda de intolerância religiosa, grave no Brasil e no mundo.
A seu lado outra bela instalação da artista Ana Biolchini (BR), mostra o senso de reinvindicação, de luta, de protagonismo do povo quando se propõe a opção pelo coletivo.
Centralizando a questão, um grande quadro do artista Edmilson Nunes (BR), nos traz um Jesus carnavalizante, aberto, inclusivo e alegre, que transmite um ato libertário de igualdade nas várias formas do sagrado !
Pontuando ao seu lado, uma linda roupa de Porta-Bandeira da Império Serrano, nos apresenta o encontro entre a cultura popular e a alta-cultura, no esplendor de um objeto maestro da festa máxima que a miscigenação brindou a cultura brasileira.
E protegidos pelo coração-gaiola da Christina Oiticica (BR), que paira sobre o grande foyer, temos o trabalho onipresente de Nelson Leirner (BR) que resume o que séculos de sincretismo e verdades tropicais nos deram como concepção de nação.
Porém, ao falar de liberdades individuais, não podemos abrir mão de nossas mazelas seculares, e a mesma riqueza do ouro barroco, apresentada na elegia de João Magalhães (BR), se posiciona lado a lado com a crítica histórica de Ivan Grilo (BR), ao mostrar a intercessão do antigo Caminho Real da exploração aurífera, com o mapa da tragédia ambiental do Rio Doce, num cruzamento histórico sobre a expropriação de nossas riquezas.
Este sentimento de opressão se apresenta na obra de Alexandre Dacosta (BR), e a redenção sobre o manuseio de nossas heranças, em certo termo, pode ser vista no cálice sagrado de Tunga (BR), que nos brinda numa liturgia onírica.
A partir daí, o espaço do sagrado dá lugar ao altar do corpo, tendo a obra de André Sheik, um bússola freudiana, como um primeiro trabalho que sintetiza o tema, e a escultura cyber-retro de Braga Tepi, como um parâmetro da sexualidade normativa.
Seguindo, a obra da artista indiana Pooza Kataria (IN), traz um totem revestido de pulseiras matrimoniais usadas para desejar sorte para as mulheres, encerrando como uma jaula, sua roupa de escola, de quando, criança, a artista foi molestada, incidente recorrente em tantas culturas que atravessa os tempos impondo às mulheres dramas existenciais e perenes. Uma realidade atávica.
Ao seu lado, o trabalho de Shurroq Amin, mostra a distorção social dos casamentos com crianças, aceitável em algumas culturas e logo em seguida o “muxarabi” gráfico do artista Ivan Enquin (AR), que fala da opressão das mulheres em tantas culturas, aqui, como um manifesto libertário, que se completa nas mulheres empoderadas, da instalação feita de colchões de motel usados, pintados pela artista Lígia Teixeira (BR), com seu “boudoir” pole dance, e seguimos até a questão de gênero, no trabalho do artista peruano – Christian Fuchs (AL), que reencarna seus antepassados, em fluidez total de gênero, numa performance mimética impressionante, finalizando essa trajetória dos direitos do corpo, enquanto espaço sagrado.
“ÁGUA” –
O módulo “Agua” representa nosso compromisso com o futuro, pois se continuarmos a agir de maneira inconsequente, serão neste campo, as batalhas pelo destino da humanidade. Assim, a vídeo-instalação de Amy Cannestra (USA) nos traz uma entidade feminina que nasce dos mares, como um portal para estas sensibilidades e percepções. A “santa” de Alexandre Vogler (BR), chora por nosso descaso com o planeta, olhando as pequenas tartarugas, da escultura de João Castilho (BR), que agonizam, num libelo sobre nossas responsabilidades de um planeta em exaustão.
Mas além de seus aspectos simbólicos, o elemento “Água”, nos coloca a questão de nosso lugar no mundo, e tanto quanto o trabalho de Silvana Pestana (Peru), que mostra um território dominado pelas águas, porém em perigo, ao trazer a flora amazônica ressecada e transformada em matéria metálica, outro espaço parametrado pelas águas – o Rio de Janeiro - é apresentado em versões distintas De um lado, sob as volutas de Wilson Piran (BR) que simulacram ondas e sol, temos a instalação de Rekha Sameer (UK): uma mandala/assemblage de “footprints” - digitais dos pés dos ambulantes das praias do Rio – mostrando um círculo karma-virtuoso-vicioso, que nos fala da realidade das relações sociais e de trabalho de um Rio inclusivo/exclusivo enquanto forma de convivência de nosso projeto de utopia social, de um território que se reconhece democrático, mas que revalida seus contrastes sociais, sempre minimizados por nossa alegre forma de viver, como mostra em contraponto, o trabalho poético de Anna Paola Protasio – “Ginger & Fred”, um delicioso comentário sobre uma visão idílica, exótica e simplista de uma cidade cujo imaginário foi construído sob a égide de um paraíso à beira-mar.
E logo, esta epifania é quebrada pelo abismo e pela cultura individualista que a escultura de Antonio Bokel (BR) nos sinaliza, como também faz, o trabalho de Zena Assi (Líbano) sobre os dramas dos refugiados, refletido em frente ao horizonte geométrico noturno das telas de Kakati de Paiva (BR), como a paisagem de uma cidade intensa, complexa e cintilante, vista do mar, como mensagens em garrafas boiando nas águas da esperança.