Inspirado num organograma empresarial, o escritor Georges Perec imaginou um jogo obsessivo de possibilidades cujo objetivo aparente seria evitar o pior. Na adaptação do texto para o teatro, Marco Nanini protagoniza o monólogo ‘A arte e a maneira de abordar seu chefe para pedir um aumento’, com direção de Guel Arraes.
Um primoroso trabalho de anti-ajuda e ironia, perfeito para a celebração de 25 anos de parceira entre dois grandes nomes das artes cênicas brasileiras, Nanini e Arraes. Logo no início, a plateia é apresentada a um manual combinatório de probabilidades do qual se serve o protagonista para pedir aumento ao chefe. No curso da história, o texto revela o ridículo das ações e das expectativas mais prosaicas do mundo do trabalho, por meio de sua repetição esquemática até o esgotamento.
“É algo totalmente diferente do que estamos acostumados a fazer. O texto não tem narrativa, não existe uma história clássica, mas tem aquilo que sempre nos ligou: o humor”, comenta Guel Arraes sobre este seu terceiro projeto teatral com Marco Nanini, depois de ‘O Burguês Ridículo’ (1996) e ‘O Bem Amado’ (2007). “É como se a gente tirasse um tempo para respirar, experimentar e, desta forma, comemorar os anos de trabalho”, completa Nanini, de volta aos palcos após o estrondoso sucesso de ‘Pterodátilos’ (2010), cuja atuação lhe rendeu os prêmios Shell, APTR, Faz a Diferença (Jornal O Globo), Artista Prime do Ano- Revista Bravo, Revista Quem e Qualidade Brasil.
Desta vez, o desafio de Nanini está na ausência de um personagem e, como diz Arraes, na falta de um enredo tradicional. Em uma espécie de palestra de auto-ajuda – ou, como define o diretor, anti-ajuda – o protagonista apresenta um intrincado manual combinatório de probabilidades para a hora em que vai procurar o seu chefe e pedir o esperado aumento.
Encenado pela primeira vez no Brasil, Georges Perec (1936-1982) fez parte do grupo francês Oulipo, de escritores que criavam suas obras a partir de restrições técnicas. Seus trabalhos são marcados pelo experimentalismo, exercícios linguísticos de alto virtuosismo e pelo fino humor francês.