Recontar O Pequeno Príncipe, uma história tão familiar e preciosa ao imaginário popular, é um desafio inspirador.
Riquíssima em signos e metáforas, essa história carrega inúmeras possibilidades de abordagem, sendo cada uma delas um vasto universo a ser explorado. A nós interessou investigar, especialmente, o resgate da infância, a relação que se estabelece na história entre o adulto e sua criança interior.
Certos modelos educacionais voltados à máxima capacitação do indivíduo tem conquistado cada vez mais espaço, em detrimento das vivências fundamentalmente infantis, do livre brincar e do estímulo da curiosidade e ludicidade não utilitaristas, um reflexo de um mercado profissional cada vez mais competitivo. Em função disso, crianças são muitas vezes tolhidas de importantes aspectos naturais da fase na qual se encontram, empurradas à racionalidade adulta antes que tenham tido a oportunidade de serem sensibilizadas em sua infância.
Dentre tantas leituras possíveis, para nós, O Pequeno Príncipe é a história de alguém que teve usurpado o seu direito de sonhar, de indagar, de expressar livremente a sua imaginação, ao ser obrigado a adentrar o pálido mundo da sensatez. Ao encontrar um principezinho cheio de perguntas, questões que o fazem refletir sobre o que é essencial, volta a se reconciliar com sua infância e se conecta com um céu de estrelas, amigas com as quais sempre poderá contar.
Logo no início da história narrada em O Pequeno Príncipe, uma criança é desencorajada pelos adultos a explorar sua criatividade. Os desenhos que fizera no papel foram desmerecidos e menosprezados e, por conta disso, acaba abandonando qualquer inventividade artística ao longo de sua vida.
Pensando nisso, decidimos eleger como nosso objeto curinga para essa história justamente uma simples folha de papel em branco.Inicialmente, o papel é tomado por sua utilização usual, como base de suporte para desenho, mas, decididos a resgatar a potência criativa de que fora usurpada a criança, extrapolamos sua função, como a pretender demostrar que a curiosidade, a expressão e a inventividade não podem e não devem jamais ser limitados.
Dobrado em avião, o papel nos transporta até as tórridas areias do deserto do Saara, vira casa e abrigo; mais tarde asteroide, planeta, estrela; cheio de amor e vaidade, se apresenta como Rosa; e em linhas tortas estabelece a amizade de uma vida inteira. Base neutra, em mil elementos o papel se investiu para a formação imagética desta história. Porque é exatamente assim que gostam de brincar essas crianças inquietas, que insistem em viver em nós.