Philip Glass 80. Mais Piano.
Um dos mais importantes nomes da música no mundo,
Philip Glass celebra no Brasil seus 80 anos.
Nome de ponta da música mundial e referência da arte contemporânea, Philip Glass é, ao lado de John Adams, um dos dois americanos vivos mais influentes na música de concerto. Seus 80 anos, completados em janeiro de 2017, vêm sendo celebrados em uma extensa turnê mundial que chega ao Brasil em setembro para três espetáculos no Rio de Janeiro e em São Paulo – dois em palco sinfônicos e um ao ar livre, gratuito -, dentro do projeto Mais Piano, com patrocínio da Rede e realização da Dueto Produções.
O compositor leva à Cidade das Artes (dia 14) o conjunto de peças Estudos Completos para Piano, ao lado de quatro pianistas convidados: a japonesa Maki Namewaka, a tailandesa-americana Jenny Lin e os brasileiros Ricardo Castro e Heloísa Fernandes. Os cinco se revezam tocando as 20 peças dos estudos compostos entre 1994 e 2012 e que tiveram estreia em 2013, na Austrália, como programa completo. Ao longo do último ano, este ciclo tem sido apresentado como um dos eventos que celebram a data redonda, com diferentes configurações, que incluem de três a dez pianistas, além de programações sinfônicas, remontagem de óperas e festivais pelo mundo afora.
"Os Estudos começaram a ser compostos em meados dos anos 1990 e estou ainda acrescentando peças a essa coleção. Há dois propósitos nessa criação: primeiro, ter música para meus recitais solo. E, em segundo lugar, para que eu amplie a minha técnica como pianista, desafiando minha própria interpretação. O resultado é um conjunto com largo espectro de dinâmica, ritmo e emoção. Espero completar a segunda leva de dez estudos nos próximos anos.", explicou Glass em 2003.
Philip Glass continua produzindo incessantemente sua inconfundível música, marcada pela reiteração de células melódicas, harmônicas e rítmicas, na linguagem singular que cunhou como ‘música com estruturas repetitivas’ e que costuma ser chamada de ‘minimalismo’, termo que ele próprio não adota.
A lista oficial - http://philipglass.com/compositions/all/ - relaciona mais de 200 peças de todos os formatos, dos solos para vários instrumentos às óperas como Satyagraha e Galileo Galilei. No seu aniversário, em janeiro de 2017, Philip Glass fez a estreia de sua 11a. Sinfonia no Carnegie Hall, NY.
Sua incansável busca para expandir a linguagem artística o leva a parcerias com nomes da música pop e da literatura como Paul Simon, David Byrne, Leonard Cohen, Linda Ronstadt, Ravi Shankar, o poeta Allen Ginsberg e a escritora Doris Lessing.
O compositor ganhou reconhecimento do grande público a partir da ópera Einstein on The Beach, 1976, de Robert Wilson, e de sua trilha para o filme Koyaanisqtasi, de 1982 – em que cenas do planeta e paisagens desfilavam conjugadas com a música impactante – e até hoje mantém forte ligação com o cinema: escreveu música para numerosas produções, entre elas, As Horas (com Nicole Kidman), O Sonho de Cassandra (de Woody Allen), A Janela Secreta (estrelada por Johnny Depp), Kundun (de Martin Scorcese), O Quarteto Fantástico (2015, direção de Josh Trank) e também os brasileiros Nosso Lar (de Wagner de Assis) e Jenipapo, de Monique Gardenberg, responsável, como produtora, pela atual turnê brasileira de Glass.
Com o escultor americano Richard Serra, Glass produziu diversas instalações e intervenções – como no recente Equal, em que ele tocava entre cubos de aço de 40 toneladas empilhados dois a dois. No Brasil, trabalhou com Carlito Carvalhosa em A Soma dos Dias, de 2010: a instalação de Carvalhosa criou uma espiral de panos translúcidos dentro da qual o compositor interpretava suas peças.
A relação do compositor com o Brasil, aliás, é sólida. Seu filho Zachary, guitarrista e compositor, passou longo tempo no país. Em 1989, Glass compôs Itaipu, para coro e orquestra. Mesmo ano em que inicia parceria com Gerald Thomas, na ópera Mattogrosso, seguida de outros trabalhos com o encenador, incluindo Carmem com filtro 2. Outra peça para orquestra, de 1997, reflete suas impressões sobre a maior favela da América do Sul: Days and Nights in Rocinha. Além da colaboração com o Uakti em Oito Peças para um Ballet, para o Grupo Corpo, ele conta que convidou o grupo musical mineiro liderado por Marco Antonio Guimarães para gravar sob sua direção. Sua última passagem pelo Brasil aconteceu em 2011, quando tocou em duo com o violinista Tim Fain em Olinda e São Paulo.
Em sua autobiografia, Glass localiza no teatro de Beckett uma das maiores influências para seu estilo. Em 1983, escreveu seu Quarteto de Cordas no. 2 para uma encenação de Company, poema em prosa do dramaturgo. Das muitas peças para dança que ele compôs, destacam-se Glassworks, para o NY City Ballet, coreografado por Jerome Robbins em 1983; In the Upper Room, Twyla Tharp, 1986; para o Alvin Ailey de Lar Lubovitch, fez North Star em 1990.
O pianista e compositor, nascido em 1937 e criado em Baltimore, é filho de uma bibliotecária e do dono de uma loja de discos imigrantes lituanos. Estudou filosofia, matemática, se encantou na faculdade com a música serialista de Anton Webern e, em Paris, com os filmes de Jean Cocteau. Estudou na Julliard School em Nova York; com o compositor Darius Milhaud; e com Nadia Boulanger, professora francesa que formou gerações.
Sua experiência em Paris e o contato com Ravi Shankar nos anos 1960, mais a vida no bairro boêmio de Nova York nos anos 1970 e 1980, repleto de artistas que experimentavam linguagens e trocavam experiências, provou-se determinante para a interdisciplinaridade de sua obra, que se desdobra em colaborações com artistas de todas as áreas. A música indiana, em particular, foi fundamental para forjar o estilo de reiterações que marca sua obra.
Na década de 1970, para sobreviver, dirigia táxi, tinha uma empresa de mudanças e trabalhava como bombeiro hidráulico enquanto compunha (“procurava atividades que tivessem um mínimo ou nenhum significado para mim”, conta ele). Um marco especial foi a criação do Philip Glass Ensemble em 1967. Em 1982, Philip Glass assinou a trilha de Koyaanisqtasi, filme de Godfrey Reggio que fascinou plateias do mundo inteiro. A poderosa e hipnótica combinação de imagens de grandes paisagens – muitas em time-lapse - e a música de Glass foi um espanto. O compositor, ali, ganhava popularidade planetária, que, desde então, não parou de crescer.
Ele mantém na Califórnia o centro de estudos e performances Philip Glass Center for the Arts, Science, and the Environment - http://philipglasscenter.org
Pianistas convidados
Maki Namewaka - Vencedora do prêmio Leonid Hreutzer, a artista japonesa construiu sua prestigiosa carreira solo estabelecendo longas parcerias com vários compositores contemporâneos como John Cage e em especial com Philip Glass. Com o marido, o regente Dennis Russell Davies, gravou versão a quatro mãos de peças de Stravinsky como Pássaro de Fogo. www.makinamekawa.com
Jenny Lin - Nascida na Tailândia e criada na Áustria, estudou com Noel Flores na Hochschule für Musik in Vienna, com Julian Martin no Peabody Conservatory de Baltimore e com Dominique Weber em Genebra. É também formada em Literatura Alemã pela Johns Hopkins University. Com mais de três dezenas de CDs, tem se apresentado com grandes orquestras como a American Symphony e Nationale della RAI, em festivais (Mostly Mozart, BAM’s Next Wave, Spoleto/USA, Kings Place London, Chopin Festival Austria); fez seu début no Great Performers do Lincoln Center. Desde 2014, realiza turnê mundial com os Piano Études. www.jennylin.net
Ricardo Castro – Criado em Salvador, estudou até os 18 anos com Esther Cardoso, discípula de Margerith Long, na Escola de Musica e Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia. Estreou aos 8 anos em recital; ingressou aos 20 no Conservatório Superior de Música de Genebra e desenvolveu uma carreira solo e em duo com Maria João Pires. Vencedor de diversos concursos de primeira linha – como o Leeds International Piano Competition, em 1993 – dedicou-se a partir de 2007 ao projeto Neojibá, inspirado no projeto El Sistema da Venezuela, em paralelo à carreira de intérprete. Em 2013, Ricardo Castro tornou-se o primeiro brasileiro a receber o Honorary Membership da Royal Philharmonic Society. www.ricardocastro.com
Heloísa Fernandes – Pianista e compositora, nasceu em Presidente Prudente, começou a estudar piano aos cinco anos e se formou com orientação de Paulo Gori e Gilberto Tinetti em piano no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, em regência no Centro de Estudos Tom Jobim, em composição na Universidade de São Paulo. Seu trabalho foca na interpretação instrumental da música popular brasileira. Finalista do Prêmio Visa em 2001, gravou em 2005 seu primeiro CD – Fruto – com suas obras e arranjos de canções de Pixinguinha e Caetano Veloso. Entre os músicos com quem fez parcerias estão Naná Vasconcelos, Zeca Assumpcão e Gil Jardim. Em 2008, fez sua estreia internacional no Spoleto Festival USA em Charleston. Lançou em seguida o projeto Melodias do Brasil - Identidade e Transformação, calcado nas pesquisas musicais de Mário de Andrade, que resultou no CD Candeias. www.heloisafernandes.com
SERVIÇO
Philip Glass 80 - Projeto Mais Piano
Patrocínio: Rede
Realização: Dueto Produções