Elenco de 17 atores negros comanda texto que trata de violência contra a mulher e o poder de transformação do amor.
Por Leonardo Lichote, O Globo
02/09/2019
RIO - Negra no sul dos Estados Unidos na primeira metade do século XX, Celie é constantemente humilhada pelo marido. Num desses momentos ele a agride dizendo, em tom de desprezo, que ela é pobre, feia, preta e mulher. Ela responde reafirmando que sim, é pobre, feia, preta e mulher: “mas eu existo”.
O diálogo de “A cor púrpura” , que estreia sexta-feira na Cidade das Artes, condensa boa parte da atmosfera que se materializa nas pouco mais de duas horas do musical — haverá ensaios abertos gratuitos na quarta e na quinta-feira, às 20h30. Com um elenco de 17 atores negros, protagonizado por mulheres, o musical — primeira montagem brasileira do espetáculo que chegou à Broadway em 2005 — retrata uma história de dor e opressão. E, mais do que isso, de redenção pelo amor. Uma saga que, na visão do diretor Tadeu Aguiar, dialoga diretamente com o Brasil contemporâneo.
— “A cor púrpura” fala essencialmente da questão humana, do poder de transformação pelo amor, que está em falta hoje. Vivemos uma era de haters — explica o diretor. — Além disso, a questão da representatividade está posta quando você vê 17 atores negros no palco. E trata da violência contra a mulher, outro debate profundamente atual.
Inspiração premiada
Escrito por Alice Walker e lançado em 1982, o romance “A cor púrpura” rendeu à autora um prêmio Pulitzer — o primeiro para uma escritora negra . Três anos depois, a história chegou ao cinema com direção deSteven Spielberg e Whoopi Goldberg no papel de Celie.
Aguiar assistiu ao musical nos EUA em 2016 e lembra de ter ficado paralisado de emoção ao fim do espetáculo. Mas não pensou em montá-lo na hora. A sugestão veio depois, de uma amiga diretora da agência que detém os direitos da peça, quando ele procurava “um texto com apelo junto a patrocinadores e que dissesse o que a gente quer dizer”.
“Não queria uma reprodução do espetáculo americano. Fizemos uma leitura brasileira de luz, cenografia, figurino... O cenário lá são apenas 17 cadeiras. Aqui, resolvemos embrulhar melhor”
TADEU AGUIAR
Diretor do musical 'A cor púrpura'
Cenário
O cenário brasileiro é baseado no esqueleto de um casarão típico do sul dos Estados Unidos, ladeado por escadas que adquirem diferentes configurações. A ideia de não ter portas e janelas, explica Aguiar, busca revelar mecanismos normalmente velados na dinâmica social — mais marcadamente o racismo e a violência contra a mulher.
— A peça que toca o coração das pessoas pela história, ao mesmo tempo em que aborda questões latentes, como feminicídio e masculinidade tóxica — defende Letícia Soares, que vive Celie. — E tudo do pelo ponto de vista de Celie, a perspectiva do amor, que rompe a cadeia de violência, que perdoa. No livro, em nenhum momento ela fala da dor, é sempre um olhar de esperança num porvir. Tudo isso sem bandeiras panfletárias, com uma luz incrível, música linda, beleza... Ao mesmo tempo, tudo visto no palco é uma bandeira erguida.
Lilian Valeska, que faz o papel de Sofia (personagem vivido no cinema porOprah Winfrey ), resume:
— Na peça, a violência e o amor são tratados de forma visceral.
Jornada musical
A música que atravessa os 40 anos de ação testemunha a presença do negro na cultura americana nas primeiras décadas do século XX no Sul dos Estados Unidos. Há spirituals, blues, work songs, ragtime , tudo executado ao vivo pelos oito músicos da orquestra. A exigência vocal é atlética, na tradição americana de grandes vozes — as partituras de Celie, por exemplo, cobrem duas oitavas e meia.
As letras foram vertidas para o português por Artur Xexéo. O colunista do GLOBO enfrentou o desafio de lidar com versos que, ele conta, têm papel dramático fundamental no original.
— Costumamos dizer que no musical as canções entram para avançar a trama, para ajudar a definir um personagem, essas coisas, mas quase nunca é verdade — brinca Xexéo. — Mas em “A cor púrpura” é assim. Então você não pode delirar na versão, senão deixa de contar a história. Ao mesmo tempo, me preocupei em fazer isso mantendo a maior semelhança fonética com o original, pensando nos atores. Porque se uma frase termina com uma vogal aberta, pra cima, e você na tradução bota uma vogal fechada, pra baixo, isso fica desconfortável pra interpretação.
Xexéo também recorda desafios mais prosaicos:
— Há muitas citações à Bíblia, que não conheço muito. Então tive que escrever as versões com a Bíblia do lado — diz o tradutor. — Em determinado momento, um personagem fazia referência a uma certa Brown Betty, com quem havia passado à noite, e isso não fazia muito sentido na trama. Deixei assim até que um dia acordei pensando nisso e decidi investigar. Descobri que é uma sobremesa, mas além disso é uma gíria para a maconha. Então tudo fez sentido.
Flávia Santana, atriz que faz o papel da cantora Shug, elogia as versões:
— Em inglês, qualquer “honey honey hall” fica bonito, é difícil fazer essas canções soarem bem em português —que destaca esse como um dos aspectos “libertadores” do espetáculo. — “A cor púrpura” é a carta de alforria para nos libertar de vários paradigmas do teatro musical brasileiro.
+Mais informações http://cidadedasartes.rio.rj.gov.br/programacao/interna/1088
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